segunda-feira, 17 de junho de 2013

O robô que veio para falar com o nosso Lagarto (ou líder).



Momento de reflexão.  Com tudo o que vem acontecendo, comnossa apatia e alienação, até onde vamos continuar votando em lagartos?

Capítulo 36 

O disco voador no qual Ford Prefect viajou clandestinamente causou a maior comoção em todo o mundo. Finalmente, não havia mais nenhuma dúvida ou possibilidade de erro, nenhuma alucinação e nem misteriosos agentes da CIA flutuando em reservatórios.
Daquela vez, era real, era definitivo. Era total e definitivamente definitivo.
O disco voador desceu com um magnífico desdém por qualquer coisa que pudesse estar abaixo dele e esmagou uma extensa área de algumas das propriedades mais caras do mundo, incluindo uma boa parte da loja Harrods.
A coisa era enorme, com quase dois quilômetros deextensão, prateada, esburacada, chamuscada e desfigurada com as cicatrizes de inúmeras batalhas espaciais violentas, lutadas com selvageria à luz de sóis desconhecidos para o homem.
Uma escotilha se abriu demolindo uma seção de gastronomia da Harrods, demoliu a Harvey Nichols e, com um rangido final de arquitetura torturada, derrubou o Sheraton Park Tower.
Após um longo e angustiante momento no qual seouviram estrondos e resmungos de aquinaria destruída, de lá saiu, descendo pela rampa, um enorme robô prateado, com trinta metros de altura.
Ele fez um gesto, levantando a mão.
– Eu venho em paz – anunciou ele, acrescentando após um longo momento de esforço adicional – levem-me ao seu lagarto.
Ford Prefect, é claro, tinha uma explicação para aquilo tudo, enquanto assistia com Arthur às repetidas reportagens frenéticas na televisão que, por sinal, não tinham nada a dizer, além de anunciar que a coisa tinha causado um prejuízo tal,avaliado em tantos bilhões de libras e que tinha matado aquele outro número completamente diferente de pessoas, e depois repetiam tudo novamente, porque o robô, desde então, estava prostrado, balançando levemente o corpo e emitindo pequenas mensagens de erro incompreensíveis.
– Ele vem de uma democracia muito antiga, sabe...
– Você está querendo dizer que ele vem de um mundo de lagartos?
– Não – respondeu Ford que, àquelas alturas, já estava um pouco mais racional e coerente do que antes, tendo finalmente sido forçado a tomar uma xícara de café -, nada tão trivial. Nada assim tipo isso tão compreensível. No mundo dele, as pessoas são pessoas. Os líderes é que são lagartos. As pessoas odeiam os lagartos e os lagartos governam as pessoas.
– Ué – comentou Arthur -, achei que você tinha tido que era uma democracia.
– Eu disse – afirmou Ford. – E é.
– Então – quis saber Arthur, torcendo para não soar ridiculamente estúpido -, por que as pessoas não
se livram dos lagartos?
– Isso sinceramente nunca passou pela cabeça delas – disse Ford. – Como elas têm direito de voto, acabam supondo que o governo que elegeram é mais ou menos parecido com o governo que querem.
– Quer dizer que eles realmente votam nos lagartos?
– Ah, sim – disse Ford, dando de ombros -, é claro.
– Mas – perguntou Arthur, sem medo de ser feliz – por quê?
– Porque, se deixam de votar em um lagarto – explicou Ford -, o lagarto errado pode assumir o poder. Você tem gim?
– O quê?
– Eu perguntei – disse Ford, com um tom crescente de impaciência entranhando-se em sua voz – se ocê tem gim.
– Vou ver. Conte-me sobre os lagartos.
Ford deu de ombros novamente.
– Algumas pessoas dizem que os lagartos são a melhor coisa que já lhes aconteceu – explicou ele. – Elas estão completamente enganadas, é claro, completa e absolutamente enganadas, mas é preciso que alguém tenha a coragem de dizer isso.
– Mas isso é terrível – disse Arthur.
– Olha, meu camarada – disse Ford -, se eu ganhasse um dólar altairiano cada vez que eu ouvisse um fragmento do Universo olhando para o outro fragmento do Universo e dizendo "Isso é terrível", eu não estaria sentado aqui como um limão procurando por umgim. Mas não ganho e aquiestou. Enfim, por que você está assim todo sereno, com essa cara de babaca? Está apaixonado?
Arthur disse serenamente que estava, sim.
– Com alguém que sabe onde está a garrafa de gim? E eu vou conhecê-la?
Conheceu, porque Fenchurch entrou naquele exato momento com a pilha de jornais que foi comprar na cidade. Hesitou diante dos destroços na mesa e dos destroços de Betelgeuse alojados no sofá.
– Onde está o gim? – Ford perguntou a Fenchurch. E, virando-se para Arthur: – O que aconteceu
com a Trillian, por sinal?
– Hum, essa é Fenchurch – disse Arthur, completamente sem graça. – Não rolou nada com a Trillian, você deve ter visto ela por último.
– Ah, é – disse Ford -, ela se mandou com Zaphod para algum lugar. Tiveram filhos ou algo no gênero. Ou ao menos – acrescentou -, eu acho que eram filhos. Zaphod deu uma boa sossegada, sabe.
– Sério? – perguntou Arthur, ajudando Fenchurch com as compras.
– Sério – disse Ford. – Ao menos uma de suas cabeças agora está mais sã do que um avestruz que tenha tomado ácido.
– Arthur, quem é esse? – perguntou Fenchurch.
– Ford Prefect – respondeu ele. – Acho que já te falei dele por alto.


Referência bibliográfica:
ADAMS, Douglas. Até mais, e obrigada pelos peixes! Trad. Marcia Heloisa Amarante Gonçalves.  Volume 3 da coleção O guia do mochileiro das galáxias. Edição popular. São Paulo: Arqueiro, 2010. p. 44 e 45.


Nenhum comentário:

Postar um comentário