A sala estava quente, abafada e
ruidosa.
A professora, suando, observava os
alunos falarem, sem parar, uns com os outros, sem nem se darem ao trabalho de
olhar para ela que entrou e disse: ¡Buenas tardes!
Desde as 7:30 da manhã que ela
estava no colégio, entrando de sala em sala e a cada aula sempre o mesmo,
tentar controlar os alunos que teimavam em sair do lugar para conversar ou
provocar um colega.
Eram 5 horas da tarde e ela estava em sua última aula
do dia, aula de espanhol. Restavam apenas 30 minutos para o término e ela ainda
não havia conseguido a atenção dos alunos, então tudo começou a passar como em
câmera lenta.
Ela via os movimentos incessantes das pequenas bocas,
as conversas se misturavam e se perdiam sem sentido.
Chegou a chamar-lhes a atenção algumas vezes sem
resultado, e encostada na parede ao lado do quadro negro, olhava-os pensando em
todos os anos de estudo e dedicação para se graduar em três idiomas e depois
passar por aquilo. Para que aprender? Para que estudar?
Aluno tem seu próprio mundo, onde as leis são feitas
por ele e seus amigos da mesma idade, adulto não tem vez, adulto nem entra!
O cansaço acumulado de tantas cobranças por um trabalho
impossível de se realizar como planejado a fez se sentir uma pessoa frustrada e
pior, que ganhava um salário frustrante.
Tudo organizado e planejado desde o início do ano,
menos a bagunça e o afrontamento dos alunos cujas atitudes são fortalecidas
pelos mimos dos pais.
Houve um tempo em que professora era valorizada e
respeitada por todos, pais, alunos, escola, sociedade.
O coração da professora começou a bater cada vez mais
rápido, suas mãos tremiam, o suor que escorria no rosto, pescoço, no corpo todo
estava frio, apesar do imenso calor que fazia na sala de aula.
Começou a respirar com dificuldade e sua visão tornou-se
turva, mas mesmo assim, conseguiu reconhecer a porta localizada no meio da
parede do fundo e que estava aberta.
Passando por ela e virando à esquerda, ela sabia que
alcançaria o corredor que dava acesso à escada e de lá ao portão que dava para
a rua.
Num afoitamento, a professora saiu correndo até chegar
ao corredor no início da escada, onde foi surpreendida por um grupo de alunos
que subia para a quadra. Restava a ela apenas um muro de 3 metros de altura no
final da área descoberta.
Num impulso irracional, como um animal encurralado, ela
escalou o muro, arrancando as unhas no cimento rústico e se jogou de lá de cima
para o lado de fora da escola.
Caiu com as pernas para a rua e a cabeça na sarjeta. O
sangue escorreu por todo o seu rosto, empapando o cabelo que estava grudado na
testa pelo suor.
Estava imóvel com os olhos abertos, parecia que
contemplava o céu com um estranho, mas largo, sorriso.Fonte: LUCKNER, Rita de Cassia Scocca. Retalhos: pequenos contos e poemas. São Paulo: Editora SoMadi, 2013. 73 p.
Ao ler lembrei-me da dinâmica diária de ser professora.Mas ao término foi impossível não lembrar a música o Meu Guri de Chico Buarque. Parabéns
ResponderExcluir